quem sai aos seus não degenera?

        Direto da "cidade submersa" de Chico, me sinto puxada por escafandristas, minha primeira impressão vem   da letra Futuros Amantes, de Chico Buarque! Ah! E quem mais poderia ser? Ele, o homem dos olhos mais lindos e mais frequentes nas prateleiras de LPs da saleta de casa. Bom, quem me conhece sabe que minha mãe tem todos os discos, livros, songbooks, dvds, minha casa é praticamente um acervo deste compositor. Péssima influência, não?

        Eu cresci assim, filha de uma professora e de um delegado de polícia, ou melhor, filha de um poeta e uma compositora, filha de dois sambistas, filha de Elenira e Zéllo, duas pessoas lindas, que me passaram tantos  valores, tantas coisas boas, pessoas que me orgulho demais de poder chamar de mamãe e papai! Pessoas comuns, com defeitos e qualidades. Para mim, bem mais qualidades que defeitos! Dois amantes da música, do samba, que cantavam, compunham, participavam de concursos, festivais. Eram da ala de compositores da Escola de Samba X-9 , a pioneira, e lá que eu ouvia aqueles sambas cantados bem alto, nos ensaios e desfiles de carnaval.  Música sempre foi prioridade em casa, desde pequenos, eu e meu irmão Thiago sempre estávamos enfiados em conservatórios, aulas de música, coisas do tipo. Thiago, 5 anos mais velho, chegou a sair na bateria da X-9, eu me limitei as arquibancadas mesmo.

        Bom, meu irmão, era batuqueiro nato, cheio de ritmo, algumas sincinesias (hahahahah), aulas de bateria, bateria no quarto, terror da vizinhança e assim seguiu sua juventude, fazendo barulho pra caramba..

Mais eclético, amante do rock progressivo, dos clássicos do rock n´roll, que me deixou outro acervo  importantíssimo, tudo de Led Zeppelin, Pink Floyd, Jetrho Tull, Clash, Iron Maiden...

       Bom, e eu? Eu cresci e absorvi muita coisa, mas percebia que não levava jeito pra nada disso, adorava ouvir, acompanhá-los nos shows mais variados, cantava direitinho, mas nada daquilo me pertencia....

    Gostava mesmo de escrever coisas, escrever poesias, ler Drummond e Paulo César Pinheiro..

       Me transportava para aqueles poemas com tamanha facilidade, mas acreditava piamente que gostava daquilo, pois era tão tão preguiçosa que se fosse um livro "normal" não conseguiria chegar ao final nunquinha. Segui cantarolando daqui, escrevendo de lá, rasgando papéis, mudando de opinião, mas não entendia como uma pessoa conseguia compor uma música, que dom era esse? letra e música? minhas poesias nunca tiveram cara de música, as palavras estavam lá, mas nunca tiveram melodia.

       Até que no ano passado, volto a Chico, os escafandristas da minha cidade submersa me trouxeram à tona e escrevi uma letra, pura intuição! Falava de todas essas coisas e tomei coragem de dar a um amigo, Jota R,  para ele musicar. Nossa, me senti! Depois, me empolguei mais ainda, pois numa vontade imensa de escrever  coisas -  a melodia veio junto! Era uma música! E minha dúvida de anos, ali, acontecendo comigo e mesmo vendo e sentindo, não conseguia explicar...

      Não que eu chegue aos pés do talento de todos estes que citei no texto, mas pelo menos, me sinto parte da família!!